A cozinha da Tailândia sempre é um terreno fértil para as mais ousadas e inusitadas mentes. De afrodisíaca a relaxante, é praticamente impossível, ela passar discreta e imperceptível pela imaginação de alguém. Muitos acreditam que uma vez provado o seu sabor, ele jamais deixará de ser lembrado. Já outros acreditam que as propriedades dessa culinária possam curar doenças.
Mas, todos acreditamos que alguma coisa de especial ela tem, ah, se tem!
Muito embora as opções de restaurantes tailandeses ainda sejam poucas e caras no Brasil, já é o suficiente pra deixar uma galera bem viciada e querendo pular no primeiro avião para conferir as iguarias em seu habitat natural. Nós éramos esse tipo de pessoa.
Comendo comida tailandesa em São Paulo
Conhecemos dois restaurantes tailandeses aqui em Sampa há alguns bons anos atrás e simplesmente amamos a comida. Me lembro até hoje da minha primeira cumbuca de peixe grelhado, coberto com abacaxi, banana, molho branco e queijo, tudo gratinado no forno.
“Naquela época”, eu ainda era franquinha na questão pimenta e pedi a versão de entrada, que no cardápio era simbolizada pela figura de uma pimentinha (mas se eu fosse macha o suficiente, podia ter pedido a versão com quatro, QUATRO, pimentinhas). Jezuis! Uma porção de arroz empapadinho de jasmin, bem à moda asiática, acompanhava aquele peixe dos deuses.
De entrada, nós pedimos um mix de bolinhos picantes de peixe e porco e um mix do que parecia ser patê, que era servido em pequenas colherinhas, na medida certa de um bocado.
Sai do restaurante com a certeza de que deveria ter nascido na Tailândia. Como eu nunca tinha comido aquela comida antes? Aquela mistura do doce com o salgado, com um toque de pimenta era incrível. Ali me apaixonei perdidamente pela “culinária tailandesa”.
O balde de água fria foi a conta. Bom, a parte triste a gente tenta esquecer, e eu sinceramente não lembro qual foi o valor, mas foi bem alto, e, então, nós voltamos para a terra. Nas pouquíssimas próximas vezes, experimentamos outros pratos sempre com peixe, e nunca quisemos o macarrão. “Ah, macarrão! Isso eu como em casa!”.
Comendo comida tailandesa na Tailândia
Agora que estão todos contextualizados, já podem imaginar qual era a nossa expectativa gastronômica quando chegamos na Tailândia. E lá descobrimos que essa história de peixe com banana é só tailandesa pra brasileiro ver.
A comida tailandesa é composta principalmente por arroz de jasmin, macarrão de arroz, legumes, porco e frango, temperados sempre com muita pimenta, alho, capim limão, tamarindo, cúrcuma e alguns elementos da família do gengibre. O manjericão é o queridinho na hora de enfeitar e um mix de castanhas em pedaços sempre acompanha a maioria dos pratos.
Já o sal, meu amigo. Esse é totalmente dispensado da alimentação. Para salgar e realçar o sabor da comida, eles preferem usar os molhos de peixe e de ostra. E não economizam não, usam e abusam. Já pra amenizar o sabor (e enfatizar o aroma) eles utilizam o leite de coco.
Embora a comida tenha um leve sabor adocicado, isso não se deve ao açúcar da cana que a gente conhece, mas sim ao açúcar das frutas. E nas casas tailandesas, é muito comum o uso do corante natural das flores para dar uma corzinha à comida.
Como vocês devem ter percebido, é tudo bastante simples, com pouca variação, mas muito saborosa. É na combinação inusitada dos temperos que está o grande segredo da culinária tailandesa. Azedo, amargo, doce, cítrico e salgado, praticamente todos os sabores presentes em um único prato, ora confundindo, ora relaxando sua mente.
Costumes a mesa
Os utensílios principais para comer são a colher e com os pauzinhos (hashis), nunca o garfo e faca. E, por isso, os pedaços de carne são sempre bem pequenos, assim não há a necessidade de corta-los.
Enquanto no Brasil nós conversamos enquanto comemos, lá é o exato oposto. O silêncio é parte da refeição e deve ser respeitado.
Os tailandeses comem bem rápido e com o prato bem perto da boca.
Comida de rua
A primeira imagem que nos vem à cabeça quando lembramos da Tailândia não é a praia, são as ruas de Bangkok abarrotadas de barracas.
Imagine você chegando do Brasil em um país onde Pepsi está escrito com outro alfabeto. Imagine você saindo do ar condicionado do metrô que você pegou ainda no aeroporto, e seguindo para um ponto de ônibus sob um calor de 40º graus, mas sensação térmica de 50º.
Agora, imagine você descendo no ponto mais perto do seu hotel, com uma mochila de 15 Kg nas costas, nesse mesmo calor, e você não conseguir andar nas calçadas porque as barraquinhas de comida a tomaram por completo e, no espacinho que sobrou, além de você ter que desviar das pessoas sentadas em banquinhos, você ainda é quase sufocado pela fumaça e pelo vapor que saem das panelas.
Depois de tudo isso, você realmente acha que sua primeira imagem da Tailândia seria uma praia?
O fato é: na Tailândia a comida de rua é super popular. E você não precisa escapar dela: relativamente limpa, organizada e, para os desbravadores de plantão, cheias de coisas diferentes para experimentar.
As barraquinhas com sucos também são bons antros de perdição. Feitos na hora, com muita fruta, muito gelo e muito açúcar, salvam o seu dia. E só 1 doleta por copo.
Insetos
Sim, eles existem, os insetos fritos. Barata, gafanhoto, cobra, aranha, besouro, todos eles marcando presença nos lugares turísticos.
Antigamente, quando o país era bem mais pobre, eles eram sim a base da alimentação da maioria das pessoas. Hoje, essa realidade já mudou, uma vez que os países estão se desenvolvendo e as pessoas têm a chance de comer melhor. Mas, se você pedir para alguém experimentar, só pra você ver se eles comem de verdade, eles não vão piscar nem um segundo e vão comer o bichinho bem rápido pra fazer um charme.
Na maioria das barracas de insetos, não é possível tirar foto sem pagar. É! Tudo pode se transformar em uma fonte de renda.
Comida de turista na Tailândia
Quando falamos que passaríamos na Tailândia durante nossa viagem, todas as pessoas que já haviam visitado o país nos disseram a mesma coisa: “vocês TÊM que comer o Pad Thai. Comam muito, porque Pad Thai só na Tailândia mesmo, o resto é cópia barata.”
Chegando lá, não precisamos fazer esforço algum para encontrá-lo. Ele é um ser onipresente e bem barato. Com uma barraquinha de Pad Thai por perto você está salvo: além de gostoso, suas porções são bem generosas. E o preço é de abrir um sorriso de orelha a orelha: entre 1 e 2 dólares.
Durante nossos primeiros dias no país, acreditamos cegamente que o Pad Thai era uma comida típica e que nós estávamos arrasando na apreensão da cultura local. Mas qual não foi o tamanho da nossa frustração quando a professora do curso de culinária que fizemos em Chiang Mai nos falou que o Pad Thai era comida de turista, que os tailandeses não costumam comê-lo no dia-a-dia.
Mas, ué, eles não comem o tal macarrão de arroz? Sim, mas a receita mais comum é a sopa de macarrão e não o macarrão semi frito, como é o Pad Thai. Enfim, superada a frustação, continuamos a nos empanturrar, porque é uma delícia mesmo e porque é amigo do bolso.
Acho que falamos o suficiente em comida por hoje e, por que não imaginar que deixamos muitos de vocês com água na boca? Então, por que não terminar esse post com uma receita de Pad Thai?
Para sermos bem honestos com a cultura, retiramos a receita do livro que ganhamos em nosso curso de culinária. Bon appetite, ou ทานให้อร่อยนะ em tailandês. 🙂
Pad Thai, a moda Asia Scenic
SE você tiver uma daquelas panelas Wok, vai ser show de bola!
Tempero
1 colher sopa óleo/azeite
1 colher chá de açúcar
2 colheres de chá de molho de peixe (dificilmente você vai ter molho de peixe, dá pra substituir por caldo de peixe, daqueles tipo Knorr)
3 colheres de chá de molho de ostra (poxa, aí não tem caldo de ostra, mas tem o caldo de marisco)
Ingredientes
200g de macarrão de arroz
50g de frango picado
150g de tofu cortado em cubinhos
100g de broto de feijão
1 ovo
2 ou 3 alhos picados
cenoura ralada
1 talo de cebolinha picada
1 xícara de água
Preparação
Frite o alho no óleo bem quente com o fogo baixo até começar a sentir o cheiro (em média, menos de 20 segundos).
Adicione o frango e o tofu. Cozinhe por aproximadamente 1 minuto.
Adicione o ovo e todo o tempero e aumente o fogo.
Um minutinho depois, adicione o macarrão e a água. Mexa por mais 2 minutos (a água deverá estar quase secando).
Adicione o broto de feijão e a cebolinha e cozinhe por 15 segundos.
Está pronto. Sirva com mix de castanhas trituradas, chili em pó e limão.