Quando retornamos do nosso mochilão em outubro de 2014, decidimos dedicar as duas primeiras semanas de Brasil a matar a saudade das pessoas queridas. Ficamos longe do blog, mas conversamos um montão sobre viagens e vida. E pra marcar o nosso retorno, decidimos escrever sobre as perguntas que as pessoas mais fizeram pra gente durante esse tempo (e qual foram nossas respostas, claro!). Foram tantas boas perguntas e tantas boas conversas que acho que isso dá um post, certeza!
Descobrimos o quanto as pessoas adoram viajar, mesmo aquelas que não se aventuram muito normalmente. De uma forma ou de outra, a ideia do desconhecido, do sossego e da diversão faz as pessoas felizes. A vida na estrada faz as pessoas curiosas. E desde que aterrissamos, o que mais fazemos é tentar matar essa curiosidade.
E assim, o post de hoje é dedicado às lembranças da viagem e às pessoas queridas que nos permitiram revivê-las, através de suas perguntas. Galera, obrigada de coração! E para os curiosos de plantão, fica aberto o convite: perguntem o quanto quiserem, sem moderação. É só usar as caixinhas de comentários daqui do blog ou lá do Facebook. 😉
TOP 10
#1
Vocês se sentiram inseguros ou com medo em algum momento da viagem?
De verdade? Não. Alias, só uma vez. Foi na Rússia, em uma cidade chamada Kazan. Era tarde da noite e estávamos em busca de algum lugar aberto para comer. Passávamos perto de uma rua estreita e escura, quando vimos o que parecia ser um homem carregando uma arma e ameaçando outros caras que estavam com ele. Apertamos o passo e rapidinho nos distanciamos. Ficamos mais um tempo meio ressabiados, mas foi só. Normalmente, andávamos com nossas máquinas penduradas no pescoço, com tablet, celular sem preocupação. É claro que nosso radar brasileiro não nos permitia conforto 100% do tempo e nos mantinha atentos a tudo o que acontecia perto da gente.
#2
O que mudou na vida de vocês?
Essa é uma pergunta difícil de responder logo de cara, porque as mudanças que uma viagem como essa pode proporcionar vão acontecendo conforme a vida vai rolando. Os primeiros dias são um pouco estranhos porque a rotina muda completamente e são muitas expectativas (as nossas e das outras pessoas) que precisamos administrar. Depois de uma semana, a ficha vai caindo e a vida começa a entrar na antiga rota (ou seria nova?). Mas, ao longo da própria viagem, já fomos percebendo algumas mudanças sim, principalmente sobre a nossa forma de levar a vida. Viajar é prioridade número 1 na nossa listinha de consumo. Podemos abrir mão de comprar quase tudo para viajar o quanto mais a gente puder. Viagem, história, comida são nossos assuntos favoritos em uma conversa. Além do óbvio, percebemos que adotamos uma postura mais tolerante frente às divergências de opinião, percebemos também que a chuva ou o sol (ou outras causas externas) atrapalham menos os nosso planos e nos tornamos melhores amigos da tentativa, do erro e do acerto. E uma certeza sem sombra de dúvidas tomou conta da gente: a certeza de que não queremos arrependimentos em nossas vidas. Melhor dar algumas cabeçadas na parede do que se arrepender de não ter nem um galinho na testa pra contar história.
#3
Vocês se adaptaram às comidas? Em qual lugar, ela é mais gostosa?
Nós não temos muitos problemas com comidas diferentes. Antes mesmo de sair do Brasil, nós já gostávamos de comida tailandesa e chinesa, por exemplo. Mas uma coisa é a comida tailandesa feita no Brasil, e outra é comida tailandesa feita na Tailândia: elas são bem diferentes, mas as duas são uma delícia. Apesar do forte tempero asiático, à base de muita pimenta e curry, conseguimos nos adaptar muito bem à comida e gostamos de verdade. Os pratos chamados de sweet and sour (que levam frutas na receita) são dos deuses e me deixam com água na boca só de lembrar. Mas depois de 2 meses, começamos a enjoar um pouco e a desejar uma comedinha mais leve.
Mesmo as pessoas com paladares mais exigentes, ou que não gostam muito de experimentar coisas diferentes, não vão passar aperto: a comida italiana é universal e está presente em todos os lugares, literalmente.
#4
Qual o lugar que vocês mais gostaram?
Essa é sempre muitooooo difícil e jamais terá uma única resposta. Todos os países, todas as cidades, sem exceção, têm sua beleza e magia. Não há nenhum lugar que a gente não tenha gostado ou para o qual a gente não voltaria; mas sim, temos os nossos preferidos.
No quesito país, e levando em consideração atributos como riqueza cultural, paisagens naturais, sabor da comida e simpatia das pessoas, nossos preferidos são o Vietnã e a Turquia.
No quesito cidade, e levando em conta os mesmos atributos, nosso voto vai pra Ho Chi Minh (Vietnã), Lhasa (Tibete), Dubrovnki (Croácia), Budapeste (Hungria) e Amsterdam (Holanda).
Londres é meu primeiro amor e o Paulinho aprovou logo de cara e é difícil alguém tentar competir com ela. Assim, Londres ganhou o título de cidadã honorária nos nossos corações.
#5
Qual foi o maior perrengue que vocês passaram?
Perrengues não faltaram na viagem, como não podia deixar de ser. Afinal, parte da adrenalina é culpa deles. Vou citar os três primeiros que a gente sempre lembra, nossos “top of mind”.
Um choro de frio. Íamos em direção ao Everest, no meio do deserto do Tibete. Fazia aproximadamente 7/8 graus lá fora, mas a sensação térmica deveria ser negativa, certeza. Dentro do nosso micro ônibus praticamente sem isolamento térmico, eu sentia muito frio. Mesmo vestindo 2 blusas e 2 jaquetas, duas calças, luvas e gorro, sentia que estava tremendo muito e de repente, comecei a chorar. Chorava de frio e não conseguia parar. Não tinha muito o que fazer (afinal, estávamos no meio do deserto) e Paulinho começou a ficar muito preocupado. Foram alguns bons minutos vivendo essa tensão, quando o Paulinho lembrou que tinha duas barrinhas de Snickers na bolsa (não, a Snickers não patrocinou esse post) e me fez comer, mesmo contra minha vontade. Mas, não é que o doce de leite, o chocolate e o amendoim funcionaram? Aos poucos, fui sentindo um pouco menos de frio e consegui parar de chorar. Final feliz 1!
Uma aniversário que quase não saiu. Queria passar meu aniversário na Croácia. Decidimos sair dois dias antes da Turquia para chegamos a tempo na ilha de Havar. Compramos a passagem para o dia 27 de junho, às 9h. No dia anterior, o plano era sair de Pamukkale de ônibus (viagem de 14 horas) e seguir direto até Istambul (chegaríamos perto das 5h, tranquilo). Um pouco antes de sairmos de Pamukkale, Paulinho lembrou que não havíamos feito o checkin online. Quando começamos o processo, descobrimos que a passagem não existia, na verdade, eu havia comprado a passagem para setembro e não junho. Faltavam 10 minutos para nosso ônibus sair e só tivemos tempo de entrar em pânico. Embarcamos no ônibus para rodoviária, onde trocaríamos para outro ônibus que nos levaria para Istambul. Bolamos um plano. Durante os 15 minutos de espera entre um ônibus e outro, Paulinho faria a troca das bagagens e seguraria o motorista, enquanto eu tentaria encontrar algum sinal de internet para comprar uma nova passagem para o dia seguinte. Depois de um chororô básico, consegui a senha do wifi de um dos guichês de ônibus. Comprei as benditas, mas comprei com o cartão errado (aquele que estava com problemas de limite). Cabeça de vento! Passamos a noite de dedos cruzados e tentando não nos desesperar. Paulinho foi bem parceiro e companheiro nessa hora. Pra ajudar, chegamos atrasados em Istambul. Tínhamos menos de 2 horas para pegar o metro, chegar no aeroporto, ir até a loja da Turkish Airlines e arrumar tudo. Chegando na loja depois de toda a correria e suados como nunca, o vendedor finalmente confirmou que havia duas passagens em meu nome para aquele dia. Final feliz 2!
Uma cama, por favor. Chegamos em Guilin, na China, perto das 23h, para passar apenas uma noite antes de seguirmos para a pequena Yangshuo. Havia pouquíssimas opções de hotel e a única que encontramos com preço razoável ficava muito longe do centro. Mas, jamais imaginaríamos que ele seria no fim do mundo. Lugar vazio, escuro, era o único hotel por ali. Junto com a gente, chegaram mais 4 francesas. O dono do hotel não falava uma palavra em inglês e só conseguimos nos comunicar graças a um russo (que, pasmem, falava inglês e chinês – deve ser um anjo, só pode) que estava hospedado. O dono se embananou com as reservas e não havia quarto disponível. Depois de muita conversa e mímica, ele nos ofereceu, pela metade do preço, um quarto que ainda não estava terminado, mas que conseguiria nos abrigar por aquela noite. Aceitamos na hora. Subimos e nos deparamos com uma cama sem colchão (isso mesmo, sem colchão, só com a madeira), um banheiro sem porta e sem eletricidade, mas que na verdade era uma lavanderia (não tinha chuveiro, mas uma torneira na altura da cintura no lugar) nenhuma coberta ou travesseiro naquela noite fria e cheia de pernilongos e, pra fechar com chave de ouro, um sonzão rolando no bar do outro lado da rua. Mas, já era mais de 1h da manhã e realmente não tínhamos para onde ir. Aceitamos a oferta e o sacrifício. Acordamos vivos no outro dia e partimos para a linda Yangshuo. Final feliz 3!
#6
O que vocês colocaram na mala? Como faziam com as roupas?
A mala é realmente um desafio, principalmente para quem faz um mochilão pela primeira vez. As dúvidas sobre frio e calor e o apego aos sapatos e calças jeans nos impedem de seguir adiante rapidamente. No entanto, depois de uma boa lavagem cerebral e uma sessão desapego, conseguimos. Vou oferecer minha mala como exemplo: 5 blusinhas de calor, dois shorts, uma calça jeans, uma camisa de manga longa, um xale, um blusinha de frio fininha, duas toalhas de rápida secagem para o corpo e uma para o rosto, um chinelo e um par de tênis (meias, roupas de baixo e roupas de banho são mais pessoais). Na necessáire: 1 exemplar pequeno de xampu, condicionador, hidratante, óleo para o cabelo, pasta de dente, fio dental, repelente e protetor solar. Também organizamos uma mala com medicamentos mais comuns e alguns antibióticos.
As roupas eram usadas com parcimônia (sim, é possível) e lavadas no geral a cada 10 dias. É possível encontrar lavanderias na Ásia em quase todos os quarteirões dos bairros turísticos e na média o valor por quilo era de USD 1,5. Já na Europa é mais complicadinho. Por isso, nosso conselho é encontrar hospedagens com essa facilidade.
#7
Em quais lugares vocês morariam?
Nossa, em vários!!!!!!!!!! Moraríamos com certeza na Croácia, na Hungria, na República Checa e em todos os países da Europa Ocidental, mas preferencialmente em Londres, Amsterdam e Barcelona. Também moraríamos super bem em Portugal. Embora a Turquia seja o país que mais gostamos de visitar, não moraria lá por conta da cultura machista e de subordinação da mulher. Já a Rússia e a Polônia são lugares muito frios.
Amamos a Ásia, mas não moraríamos lá por conta do calor, aquele tipo de calor que gruda, pois é causado principalmente pela junção das altas temperaturas com o ar muito úmido. Mas, como toda regra tem uma exceção, Hong Kong seria a exceção da Ásia e talvez Cingapura (mas ainda não a conhecemos para darmos certeza). Se Bangkok e Ho Chi Minh não tivessem um clima tão difícil seriam nossos preferidos no continente.
#8
Como vocês se organizaram com o dinheiro?
Organizar-se com dinheiro para uma viagem de alguns meses não é tarefa simples. Muitos fatores estão em jogo: segurança, valor do câmbio, facilidade de transporte, taxas, etc… Começamos a nos organizar em meados de setembro para compra de dólar e euro: optamos por levar uma boa parte do dinheiro em espécie (algo em torno de 30%). 35% nós compramos no cartão viagem (aquele que funciona como débito e que você pode adquirir com a sua corretora mesmo). Os 35% restantes, nós deixamos em nossa conta corrente, para serem usados em compras com cartão de crédito (pagamento das passagens aéreas e reserva de hoteis, principalmente).
#9
Qual foi o lugar mais estranho em que vocês dormiram?
Estranho, estranho não teve nenhum. Preferimos dizer que dormimos em lugares exóticos. Passamos uma noite em uma tenda no Everest, duas noites no chão de uma cozinha em São Petesburgo, 2 noites em trens bem sujinhos no Vietnã, a fatídica noite na cama sem colchão na China, noites e noites em aeroportos e uma noite em um ônibus completamente cheio de formigas no Camboja.
#10
Qualquer pessoa pode fazer um mochilão?
Sim, com certeza. Absoluta. Dá bastante trabalho organizar uma viagem como essa e leva bastante tempo para planejar, principalmente em termos financeiros. Também é super importante conhecer alguns macetes e saber atrás de quais arcos-íris ficam os potes de ouro. Acreditamos que as únicas coisas essenciais são: espírito de aventura, cabeça fresca, poucos pré-conceitos e na ponta da língua um pouquinho de inglês. O resto o mundo te dá!
E, você? Tem alguma pergunta que quer fazer pra gente? Perde a vergonha e pergunta. A gente promete que responde rapidinho!
Definitivamente, minha pergunta é: Como vcs conseguiram voltar??? É sério, quase entro em depressão toda vez que volto de viagem…claro que com o tempo a família, a rotina e outras coisas boas desse Brasilzão de Deus faz vc se conformar, mas fico sempre com aquele gostinho de “não pertenço a esse lugar”…Bjs
Muito boa sua pergunta Rody, kkkkkk. Não é fácil voltar mesmo não. Como fizemos uma viagem bem longa, criamos um rotina diferente, que teve que ser readaptada de novo. Mas, ver a família e os amigos foi uma delícia e ajudou nesse processo. 🙂