Hoje, faz um mês que estamos vivendo em São Paulo sem carro. E pensamos: “Por que não compartilhar nossas experiência com os leitores do blog? Vai que alguém está pensando o mesmo?”
Então, decidimos começar uma série de crônicas sobre as coisas que acontecem quando não se tem um carro pra chamar de seu. Os prazeres e as dores. Vivendo em São Paulo sem carro. Tudo a partir de hoje. 😉
Quando você volta de uma viagem pelo mundo, um dos efeitos colaterais mais fortes é não querer fazer as mesmas coisas do mesmo jeito de antes.
É como um bichinho inquieto que fica dentro da sua mente e te impede de seguir no modo automático. Dá coceira, formigamentos, calorão e até um espirro de vez em quando.
2014 foi o ano das caminhadas, das pedaladas e dos chacoalhões nos coletivos. Passamos quase 8 meses usufruindo dos transportes não motorizados. Muitas vezes, estávamos carregando uma mochila de 15 quilos nas costas sob o sol rachando 40 graus nas nossas cabeças.
Pergunte pra mim se nós reclamamos. Pergunte se foi sofrido. Se nos arrependemos. Sim, de vez em quando a gente reclamava um pouquinho, #quemnunca: “putz, precisava não ter uma nuvenzinha no céu?”, “e esse busão que está mais de 15 min atrasado?”, “ahhhhhh, olha a marca da regata no meu braço!”, “que barulho chato nessa bicicleta!”. De vez em quando, um pequeno sofrimento: bolhas no pé, queimaduras de leve, dor nas costas e quase um avião perdido! Ainda bem que ficamos no quase…
Mas, não, não nos arrependemos e estamos repetindo a dose (errar uma vez é humano. Errar duas vezes é o que mesmo?, rs). Tudo bem que não foi assim uma coisa planejada e estruturada. Digamos que o que aconteceu foi uma oportunidade.
Antes de viajar, vedemos o carro do Paulinho e estacionamos o meu na casa dos pais dele. Assim que voltamos ao Brasil, uma prima se interessou pelo carro e nós pensamos: “Por que não vender? Compramos um carro mais simples, por enquanto, até as coisas se ajeitarem novamente”. Feito! Carro vendido. Mas nada de encontrar um substituto tão bom quanto e com preço justo.
Nossos pensamentos foram, nesta ordem:
“Precisamos achar um carro até o dia de entregar esse aqui!” (consciência do fato)
“Falta pouco pra entregar o carro e ainda não encontramos nada” (começo do desespero)
“Ah, esse carro está um pouco estranho, mas se ele fizer um desconto a gente compra” (desespero acentuado)
“Não era pra ter perdido o negócio. Agora não vamos achar mais NADA igual” (desespero em modo avançado)
“Não vamos fazer nenhuma cag$&@%. Vamos procurar com calma e até lá, a gente usa ônibus e a moto” (usando a cabeça pra pensar de novo)
“E se a gente desistisse de procurar carro agora e tentássemos ficar sem ele?” (ideia de jerico?)
E foi assim. A ideia de jerico se transformou em mais uma loucura na nossa vida!
“Ah, mas eu duvido que vocês vão aguentar muito tempo. Impossível, São Paulo sem carro!” Bom, nós também! E é justamente o desafio de fazer acontecer que nos dá mais vontade de ver como será! Não apostamos nenhuma caixa de cerveja com ninguém, nem assinamos nenhum contrato com multa. Vamos seguir assim até quando acharmos que é mais vantajoso.
E se o bichinho da mesmice voltar a incomodar, a gente muda de novo!