Pequim, em chinês, 北京.
Estar em Pequim é alucinante. Do momento em que você chega até a hora que vai embora, sua cabeça ferve, seu cérebro parece funcionar a 300 Km/h e tudo o que você vê parece uma alucinação.
A massa de pessoas que andam desenfreadas pelas ruas, o mar de carros e motos que se estendem até onde seu olho consegue enxergar, a poeira cinza que esconde o sol e tamanho da cidade que engana e massacra seus pés. Tudo na China é superlativo. E Pequim é a síntese da China.
São quase 11 milhões de pessoas que entram e saem de restaurantes, de metrôs. Que atravessam as ruas, que tentam te vender alguma coisa. Somadas a elas, os milhares de turistas que fazem fila nas atrações turísticas, que lotam os hotéis, que circulam de tuk tuk pela cidade e compram, compram sem parar.
“É loucura viver desse jeito”, você pensa. Asfixia. Mas, quando você pára e observa um chinês no cotidiano dele, você começa a enxergar sentido em tudo isso. Eles são sim acelerados. Eles têm pressa. A forma do caixa atender no supermercado, a maneira de comer, a velocidade de andar, a expressão da fala. Tudo é pra ontem.
Eles não gostam muito de negociar com turista não. Muito diferente dos países do sudeste da Ásia, na China, a expressão “time is money” já está pra lá de absorvida. Um minuto negociando é uma venda perdida. Em Pequim, seja ligeiro. Negocie, mas não durma no ponto. O vendedor vai desistir facinho de você.
Pequim é pura história. Diz-se que seu nascimento (embora com outro nome e outra configuração espacial) se deu ainda na época da conquista da região pelos mongóis, então liderados pelo famoso Ghengis Khan, lá em 1215. Mas foi durante a dinastia Ming, em 1403, que a cidade foi batizada de Beijing, que significa capital do norte.
O terceiro imperador dessa dinastia, além de transferir a capital para o norte, também ordenou a construção da Cidade Proibida. A Cidade Proibida foi o centro política da China por cinco séculos, além da residência oficial do imperador. Chama-se Proibida porque era totalmente inacessível a quem não fazia parte da “corte do imperador”, ou seja, não era permitido a nenhum cidadão comum adentrar os portões da Cidade.
Cidade Proibida
Até hoje, o lugar é considerado o maior palácio do planeta. São 720.000 Km², 980 edifícios e quase 9.000 salas. Lembram que na China tudo é superlativo?
Pela grandiosidade e importância do palácio, é praticamente imprescindível o aluguel do audioguia para entender as diferenças entre as construções e seus significados. Andar sem pressa e atento aos detalhes é nosso melhor conselho.
Muitos dos prédios foi degradado durante a invasão japonesa em 1931 e um cuidadoso trabalho de restauração começou em 1950. A arquitetura bem tradicional chinesa, que é linda, foi 100% mantida. Se conseguir chegar bem cedinho, enquanto ainda está um mais vazio, você vai se sentir como no filme O Tigre e o Dragão. Nós não conseguimos chegar cedo, mas ficamos até o último minuto, o que foi incrível. A Cidade Proibida só pra nós dois!
Onde fica: Ao lado da Praça Celestial
Como chegar: Estações Tian´anmen West e Tian´anmen East
Quanto custa: 6 USD (Audioguide, 6USD)
Quanto tempo: 6 horas
Continuando a lista de construções iniciadas pelo terceiro imperador da dinastia Ming, a próxima é o Templo do Céu, em chinês 天坛. O Templo do Céu é também um conjunto de templos que tinha como função principal ser um mediador entre a terra e o céu. Por meio dele, os imperadores pediam pela boa colheita e agradeciam, depois, pelos bons frutos.
Templo do Céu
Templo mais famoso do conjunto, e que é um dos símbolos de Pequim, com certeza é o Templo da Boa Colheita. Simplesmente maravilhoso. Em formato circular, mistura pedras, mármores e ladrilhos nas cores azul, marrom, branco e uma bola dourada na cúpula.
Infelizmente, não é possível entrar. A única forma de vê-lo por dentro é se degladiando com mil chineses nas portas, que ficam com a parte de cima abertas. Mas, ele também não é original. Foi destruído por um incêndio em 1889 e reconstruído logo no ano seguinte.
Onde fica: no parque Tiantan Gongyuan
Como chegar: Estação Tiantandongmen de metrô
Quanto custa: 5 USD/pessoa
Quanto tempo: 1h e 30min
A dinastia Ming é onipresente na história das grandes construções chineses. Dois mil anos depois de iniciada a construção da Grande Muralha da China, é na dinastia Ming que ela termina. Considerada uma das sete maravilhas do mundo moderno, a Muralha ainda é um grande mistério quando o assunto é sua construção.
Algumas pesquisas mais recentes afirmam que ela não foi construída para proteger o império chinês do ataque de outros povos (naquela época, a China era pouco ameaçada e seu poder era muito grande), mas, sim, para proteger a China no futuro. Outros argumentos mais práticos são: a criação de um lugar para enviar os desertores ou uma forma de empregar os milhares de soldados que estavam à deriva depois da unificação do império.
Grande Muralha da China
Estar na muralha é surreal: olhar o horizonte e vê-la seguir para onde seus olhos não alcançam. Subir, subir e admirar aquela imensidão é realmente incrível. 360º, para onde se olha, só se vê ela. Um colosso. Um gigante. Uma loucura. Imaginar quantas milhares de pessoas morreram durante sua construção, a dificuldade de acesso, o frio, o calor. Pedras sobre pedras que dançam pelas montanhas da China e da Mongólia.
A parte mais visitada da muralha (e, portanto, a mais turística) é Badaling. Dá pra visitar tranquilamente de transporte público, mas pode levar até umas 2 horas. A maratona começa em qualquer estação de metrô até a estação Xizhimen, a mais próxima da estação de trem Pequim Norte, seu destino nessa primeira parte da jornada. Uma caminhadinha de 10 minutos separam as duas estações e é SUPER IMPORTANTE que você tenha tudo anotado em chinês num papel para mostrar às pessoas na rua onde você quer ir.
De Pequim Norte partem os trens para Badaling, aproximadamente de hora em hora, e ao custo de uma doleta. A viagem dura mais ou menos 45 minutos e depois que você chega em Badaling, mais uma caminhada de 10 minutos para chegar na estação de ônibus para subir até a muralha. Parte 2 da maratona. Prepare-se para a fila e para os empurrões, lembrando sempre: na China não tem fila, quem conseguir entrar antes, vai, os outros ficam.
Chegando finalmente na entrada da muralha, haverá duas opções para subir: a pé ou de bondinho. Nós achamos o bondinho bem caro e preferimos subir a pé mesmo. É um pouco cansativo, não posso negar, mas é bem divertido. As rampas são muito inclinadas e é preciso segurar firme no corrimão pra não cair. Subir é apenas cansativo. O difícil é descer.
Como já havíamos lido, essa parte da muralha é realmente cheia de turista, e, para aproveitar melhor a visita, o ideal é chegar bem cedo, perto das 9h. Há uma outra parte da muralha que é possível visitar e se chama Mutyanu. É bem menos cheia e a construção ainda é original. O problema é que para ir até lá é necessário chamar um taxi, porque não há transporte público. A corrida fica em torno de uns 70USD ida e volta.
Nós, infelizmente, não tínhamos essa grana e acabamos optando pela parte turística mesmo. Mas, já lemos vários relatos de pessoas que foram e todos dizem valer muito a pena.
Onde fica: por todos lugar, a parte principal está ao norte de Beijing
Como chegar: é uma maratona, explico melhor abaixo
Quanto custa: 8 USD/pessoa
Quanto tempo: praticamente o dia todo (contando os deslocamentos)
Seguindo a linha “Lugares incríveis de Pequim”, nossa próxima parada é o Summer Palace, meu lugar favorito em Pequim. Conta a lenda que na época de sua construção, no século XVIII, o imperador queria comemorar o aniversário da sua mãe em grande estilo, presenteando-a com alguma coisa memorável. E, então, ordenou fez-se o Summer Palace.
Um complexo lindo de morrer, com muitos palácios e jardins, foi o lugar de repouso e reflexão de muitos imperadores e mães. Infelizmente, eles foram fortemente danificados por duas vezes, e o que vemos hoje não é praticamente nada original, mas é muito fiel. A maior perda aconteceu durante a Guerra do Ópio, quando os franceses e os britânicos queimaram o máximo que puderam de Pequim.
Os jardins foram transformados em parque e abertos ao público em 1924. E desde então, é considerado “o jardim imperial mais perfeitamente preservado com o mais rico cenário já feito pelo homem do mundo”, nas palavras do mapa gracinha do parque, que você pega logo na entrada.
Summer Palace
Andar pelo Summer Palace não é tarefa assim tão fácil. Além de muito grande, o terreno é bem irregular, ou seja, muitas subidas e descidas. Mas, vale cada passo. Um lago chamado Kunming dá ainda mais charme para o lugar. Ocupando praticamente metade de todo complexo, ele se esparrama pela superfície e forma pequenos córregos e rios que percorrem a parte leste dos jardins, deixando a paisagem ainda mais bucólica.
Onde fica: norte da cidade
Como chegar: estação de metrô Beigongmen
Quanto custa: 7 USD/pessoa
Quanto tempo: de 2 a 6 horas (depende da inspiração)
Sim, faz parte da visita a Pequim a maratona “palácios imperiais”. A cidade é um desbunde nesse sentido. Mas, Pequim também é muita história. A Praça da Paz Celestial, em chinês 天安门广场, foi palco de muitas manifestações históricas é com certeza um dos lugares mais irônicos do oriente.
Também conhecida como Tiannamen. Lá, eles dizem ser a maior praça do mundo. Mas, a Wikipedia diz ser a terceira. Mas, sem chorumelas, ela é grande pra dedéu: 44 hectares! Além do Grande massacre em 1989, quando o exército pode ter matado milhares de manifestantes que pediam pela democracia, a Praça também protagonizou os discursos de Mao Tsé Tung e muitas manifestações de apoio ao regime comunista durante a Revolução Cultural.
Milênios e milênios de guerras, lutas, imperadores obcecados pelo poder, construções superpoderosas, e, mais recentemente, a revolução comunista. Não vou negar que o assunto “comunismo” me fascina e interessa muitíssimo, e por isso, um dos lugares que eu não abria mão de visitar era o Museu Nacional, que fica também na Praça da Paz Celestial.
Olhando de fora, já sentimos o drama. Enorme. Durante nossa visita, estava rolando um esquema de estrangeiro com passaporte não pagar para entrar. Só mesmo o valor do mapinha, menos de 20 centavos de dólar. A entrada no museu gera uma confusão mental, porque ele parece um shopping center. Olhem essas fotos e me digam que é impossível não pensar isso!
Museu Nacional da China
De verdade, não dá pra conhecer o museu todo (tarefa praticamente impossível em quase todos os grandes museus do mundo), mas nós tentamos e vimos algumas salas interessantes sobre artefatos chineses de mais de 2 mil anos e um pouquinho das dinastias Ming e Qing. No entanto, nosso interesse maior era chegar logo na sala da Revolução Chinesa e entender o ponto de vista deles sobre tudo.
Chegando na parte mais esperada, que decepção… mil vezes decepcionada! Demos de cara uma área enorme, cheia de salas com fotos e muitas informações… TODAS em chinês. Tudo em chinês. Apenas pequenas introduções em inglês e mais nada. Pode isso, produção?
O que que adianta tanta escada rolante, se em uma das áreas mais visitadas, não tem informação em inglês. Uma das minhas hipóteses, a mais forte delas, é que eles não querem que a gente saiba o que eles contam pra população. Querem manter o discurso sobre controle. Rolou uma lágrima e então, nos despedimos do museu.
Onde fica: na Praça da Paz Celestial
Como chegar: estação de metrô Tiananmen East
Quanto custa: gratuito com passaporte
Quanto tempo: de 2 a 4 horas
Não podíamos passar por Pequim e não conhecer o Parque Olímpico e seu mais famoso representante, o Estádio Nacional de Pequim, ou Ninho de Pássaros, em chinês 北京國家體育場.
Parque Olímpico
Depois de tanto ver os estádios pela televisão, Ninho de Pássaro e o Cubo D´Água, nossa curiosidade era muito grande para vê-los ao vivo. E eles são bonitos e imponentes de verdade. Fizemos a visita durante o dia, mas gostaríamos de ter ido a noite também para ver o parque todo iluminado. Vale muito a pena.
Onde fica: bem ao norte da cidade
Como chegar: estação de metrô Olympic Sports Center
Quanto custa: gratuito
Quanto tempo: de 1 a 2 horas
Outra atração na Praça Celestial é o Mausoléu do Mao Tsé Tung. Nós havíamos visitado o Mausoléu do Ho Chi Minh no Vietnã e queríamos fazer a via-sacra neste também. Nada de mais… Só uma “fila” (lembra, na China não existe fila) de mais de 2 horas, com milhões e milhões de chineses se degladiando, chorando, pisando no seu pé e te cotovelando. Tudo pra ver o que parece ser o corpo embalsamado do homem. A visita em si não dura mais de 5 minutos e os guardas ficam mega te apressando pra sair… Enfim, checked!
Essas são apenas as principais atrações de Pequim, mas esteja preparado para muitas outras, como assistir a espetáculos de luta e de acrobacia, andar sem rumo na Qianmen Street (e fazer compras se essa é sua praia). Dá pra visitar também a Galeria de Arte Nacional, a torre da CCTV… A lista é longa, garanto!
Ah! Não deixe de experimentar a iguaria muito famosa em Pequim: o pato assado. Não que o pato seja lá grande coisa e tampouco muito diferente daqui, mas a experiência como um todo é o que conta.
Encontre um bom restaurante (há muitos, peça sugestão para a recepcionista do hotel), escolha o pato tradicional. O prato é dividido em pequenas partes (molhos, raízes, tortilhas) e, conforme elas vão ficando prontas, a garçonete vai trazendo pra sua mesa. Mas ainda não é hora de comer. Espere o pato.
Assim que ele chegar, peça para ela lhe ensinar como se come e divirta-se com o resto: ela vai te mostrar como comer a delícia e depois ficar te observando de longe pra garantir que você está comendo do jeito certo e não está matando o costume deles. Se você pedir para ela trazer sal, ela vai te olhar com ódio e vai te dizer em alto e bom som: “sem sal”.
Esse foi um dos momentos mais divertidos de Pequim, porque o sabor do prato é bem doce e nós ficávamos vigiando a garçonete enquanto colocávamos sal no molho. Ela nos pegou em flagrante duas vezes e veio nos dar um belo puxão de orelhas chinês.
Estar em Pequim é treinar à exaustão todos os seus sentidos. De cheiros adocicados à escuta de sons estridentes que o chinês produz enquanto fala. Da poluição pegajosa que cola no corpo ao sabor inédito de comidas tradicionais. É estar sozinho na multidão, na correria de alguma coisa que você nem sabe o que é. É amar e odiar, ao mesmo tempo.
Dicas:
Pequim tem a maior rede de metrô do mundo em extensão. Aproveite e não tenha preguiça. Dá pra ir praticamente para qualquer canto da cidade super fácil.
Saia do hotel com tudo o que você precisará saber ao longo do dia escrito em chinês. Peça para alguém te ajudar. Um chinês que fala inglês é uma agulha no palheiro.
Não é possível sair da Cidade Proibida pelo mesmo lugar da entrada. A saída oficial é exatamente do outro lado, muito, muito longe. Uma alternativa é pagar 2 USD e sair pelo jardim lateral, que além de bem bonito é bem mais próximo do metrô.
Garrafa de água a tiracolo sempre, principalmente no verão.
Não encontra faixa de pedestre para atravessar a rua? Procure pela estação de metrô mais próxima ou por uma passagem subterrânea. Eles adoram essas passagens. Pequim é cheia delas, uma estará bem perto de você.
Ai que delícia de viagem. Pequim está na nossa lista, não sei quando vamos, mas um dia é certeza! 🙂
Adorei o post!! Tão detalhado assim, não tem como não querer ir tb né?
Apesar da péssima sorte que tive, quero voltar a Pequim e conhecer a muralha! =)
Vou torcer Paula! 😉
Pam, fiquei zonza também com o post, hehe… Lugares como Pequim nos deixam zonzas em todos os sentidos. Ainda não tive o prazer de conhecer a Ásia, quero muito!
A china toda deixa gente meio zonga. É tanto gente, tantos carros, tantos costumes diferentes. Mas é uma maluquice deliciosa de conhecer, né? 😉
Sempre tive essa impressão que Pequim (e a China inteira pra falar a verdade) é uma loucura, outro mundo!!! hehehe
Fer, e é outro mundo mesmo! Parece que nada é familiar, sabe? E por isso que vale tanto a pena! 😉
Preciso dizer, o site ficou lindo… Dá ainda mais vontade de ficar lendo e lendo e viajando com vcs 😉 bjs
Rody, obrigada, obrigada! Essa é a intenção!!! 😉